2015: 20 videoclipes preferidos

Dando início as atividades de listagem dos melhores do ano, só pra não perder o costume. Antes de mais nada, preciso apenas ressaltar dois pontos (que vão estar meio implícitos nas listas pelo fato do blog estar sendo atualizado bimestralmente e eu estar cada vez mais seletivo com minhas postagens por aqui): 1) esse foi um ano bastante corrido, e isso justifica a seleção enxuta dos 20+ de 2015; 2) continuo me dedicando carinhosamente ao cinema, embora ainda tente me esforçar minimamente pra ouvir o que tá rolando dentro e fora da blogosfera musical ao mesmo tempo. Logo, não levem em consideração se as listas parecerem tendenciosas, pelo contrário, estou cada ano mais seletivo e, novamente, é pela “falta de tempo” (leia-se responsabilidades da vida adulta) em me dedicar mais veemente a esses hobbies. Essa lista de videoclipes compilei numa tarde, revisando algumas coisas, vendo outras que haviam ficado pendentes e catando algumas dicas em listas de colegas que se dedicaram bem mais do que eu.

20. ONLY ONE, Kanye West & Paul McCartney (dir. Spike Jonze) 2019. ALL HANDS ON DECK, Tinashe (dir. Ben Mor) 1918. ICE PRINCESS, Azealia Banks (dir. WeWereMonkeys) 1817. DIVERS, Joanna Newsom (dir. Paul Thomas Anderson) 1716. BOA ESPERANÇA, Emicida (dir. Katia Lund & João Weiner) 1615. TALK ME DOWN, Troye Sivan (dir. Tim Mattia) 1514. BUFFALO, Tyler, The Creator (dir. Wolf Haley) 1413. WTF (WHERE THEY FROM), Missy Elliott & Pharrell Williams (dir. Dave Meyers) 1312. BAD BLOOD, Nao (dir. Ian Pons Jewell) 1211. SEÑORITA, Vince Staples (dir. Ian Pons Jewell) 1110. BANG, Anitta (dir. Bruno Llogti) 109. BORDERS, M.I.A (dir. M.I.A) 98. BITCH BETTER HAVE MY MONEY, Rihanna (dir. Rihanna & MegaForce) 87. PURPOSE: THE MOVEMENT, Justin Bieber (dir. Parris Goebel) 76. FAMOUS, Charli XCX (dir. Eric Wareheim) 65. BILLIE JEAN X DANCE, Dawn Richard (dir. Monty Marsh) 54. M3LL155X, FKA twigs (dir. FKA twigs) 43. ALRIGHT, Kendrick Lamar (dir. Colin Tilley) 32. WILDEST DREAMS, Taylor Swift (dir. Joseph Kahn) 21. FEELING MYSELF, Nicki Minaj & Beyoncé (dir. Nick Walker)1

The Visit (M. Night Shyamalan)

the-visit-high-res-still-3Os textos que costumam sair em tempos de filme novo do Shyamalan são sempre voltados pro fato de o diretor de O Sexto Sentido, supostamente, nunca mais ter acertado a fórmula que o levou a notoriedade cinematográfica. Poucos são os críticos que de fato se propuseram a estudar um dos mais criativos diretores contemporâneos dos Estados Unidos. A riqueza em detalhes e profundidade sobre a cultura americana por de trás da obra de Shyamalan quase sempre é substituída por uma leitura rasa de elementos de cinema de gênero e seu fracasso comercial. A Visita, sua mais recente obra prima, não apenas levantou a moral dele pelo sucesso inesperado em bilheteria, como também deixou evidente que Shyamalan (assim como Spielberg) está em sua fase mais prolífica e criativa.

A Visita segue uma premissa bastante conhecida do cinema autoral e independente do final dos anos 90 (p. ex. A Bruxa de Blair), que se saturou ao decorrer dos anos 00 com os mockumentaries/found footage films. Entretanto, em A Visita, o diretor abraça as diversas características que esse tipo de cinema pode proporcionar pra construção de uma catarse narrativa anticlimática -e isso se evidencia pela brincadeira com o humor e o suspense ao decorrer de toda a trama- ao criar uma espécie de auto ironia com recursos de um cinema que ele mesmo ajudou a conceber. Aliás, o grande trunfo de Shyamalan é que ele não precisa de muita coisa pra ser esperto. A trama é basicamente a história de duas crianças que decidem conhecerem seus avós maternos e registrar tudo isso com uma câmera (!) no estilo investigativo universitário mais clichê possível.

Logo no início do filme, somos apresentados a um enredo familiar bastante complexo, que Shyamalan faz questão de apenas nos inserir nele, sem dar pistas do que pode se suceder ou ter sucedido através dali. Acompanhamos, então, a rotina e as relações de uma semana desses dois personagens com esses idosos numa pacata cidade do interior. Nesse contexto, Shyamalan abre um parêntesis bastante singelo ao perpetuar a distância física e virtual que existe entre as famílias. O Skype, o Youtube, elementos da cultura pop, os aparatos tecnológicos e a câmera registrando tudo é parte dessa ideia de contradição entre a distância e a aproximação entre indivíduos de gerações específicas. E muito desse sentimento se deve a genialidade de Shyamalan em criar momentos introspectivos para o desenvolvimento daqueles personagens, em sua relação com o público e a câmera, que evidenciam uma característica nada dimensional, como costumeiramente se fazem as produções que buscam meramente o susto e piadas fáceis. Num filme de Shyamalan há sempre um por que para um personagem olhar para a câmera, citar Tyler, The Creator, ou se revelar diante de uma situação fraterna.

Sicario (Denis Villeneuve)

maxresdefaultDenis Villeneuve se tornou em pouco tempo um dos diretores mais respeitados e bem criticados da atualidade (rola até a possibilidade de ele dirigir um remake de Blade Runner). E desde a indicação de Incêndios ao Oscar, é notável sua desenvoltura com suspenses que, embora não grandiosos, mostram uma maturidade notável na construção de imagens que dialogam com o espectador através da tensão e de personagens dramaticamente concebidos.

Sicário, seu mais recente trabalho, é um thriller com toques de horror sobre o sistema e a violência que rege a indústria do narco-tráfico na fronteira dos Estados Unidos com o México. Misturando geopolítica e violência social, o filme bem parece uma atualização de Traffic com Onde Os Fracos Não Tem Vez (e não só porque no elenco estão Josh Brolin e Benicio Del Toro). Villeneuve consegue aqui, pela primeira vez, transformar apelo metódico em apelo visual, cinematográfico. Através da bela fotografia de Roger Deakins, que não cria relações de maniqueísmo entre as fronteiras, embora a narrativa evidencie qual é o mal maior e quais suas táticas de sobrevivência, adentramos no universo visceral de Sicário sabendo que o que nos espera é algo não menos simplório que o parasitismo que faz a política global funcionar. Villeneuve, auxiliado pela visão orgânica e mutável de Deakins, e em grande parte pela intensidade emocional de Emily Blunt em cena, que coloca o espectador completamente à mercê de sua personagem e da violência masculina que a cerca, procura dissecar nossa percepção sobre a iminência do perigo e do mal -algo recorrente em seus filmes.

Interessante excepcionalmente pelos recursos simbióticos entre fotografia, som e roteiro na concepção de uma tensão progressiva, e especialmente pela relação de sua protagonista com toda a misé en scène, Sicário já seria o projeto mais coeso da filmografia de Villeneuve, mas por também saber engendrar seus temas à construção narrativa de um suspense policial, também podemos considerá-lo um dos mais notáveis filmes do ano.

for your entertainment

Desde que saíram os primeiros releases de Magic Mike XXL, já imaginava que a sequência não teria aquela vibe “we made in america” dos filmes do Soderbergh (e felizmente não tem mesmo, ainda que a essência do primeiro filme continue intacta aqui). No entanto, e levando em conta que o filme de Gregory Jacobs (protégée do Soderbergh -tipo um Robert Lorenz do Eastwood) se pretende ser um grande evento, a misé en scène dos diálogos continua desconstruindo aquela velha noção do american dream, só que agora num contexto social + abrangente (é besteira ignorar o fato desse ser talvez o filme feminista mais divertido e inteligente dos últimos 4 anos). E o mais interessante aqui é que essa noção vem sempre com uma pitada de auto ironia, que Tatum abraça quase como uma carcaça pro Mike ser essa espécie de curandeiro dos problemas alheios quando ele mesmo está cheio deles (!). Essa preocupação de evidenciar tais problemáticas é tão singela que soa bem mais como uma explosão de boas intenções (e muito bem vindas, por sinal) do que uma banalização daquele discurso de apropriação cultural recorrente quando temas tão corriqueiros são expostos dessa forma nas telas.

Longe de possuir o ritmo e o brilhantismo esquemático que Soderbergh impunha em quase toda a estética de seu predecessor (e são propostas bastante diferentes, que fique claro), é importante perceber que o grande trunfo de Jacobs, no entanto, está na harmonia e no respiro que ele dá para cada sequência/personagem secundário (em especial às mulheres), fazendo deste um real produto de entretenimento que nunca subjuga sua audiência ou leva ela a crer algo que o não é (btw, é por isso que Mike exalta diversas vezes eles serem ‘male entertainers’). Tampouco, o filme tenta neutralizar sua essência puramente sexual, e pelo contrário, sempre que pode, eleva a sexualidade à uma celebração sem qualquer amarra conservadora/machista como subtexto.

Por simplesmente ter controle daquilo que se pretende quanto um feel good movie (com direito a mensagem social e tudo), não deixando de ser aquela reunião de amigos tipicamente Soderberghiana, essa sequência é por excelência um delicioso prato p/ quem está disposto a se divertir. Seja você hétero, gay, masculino ou feminino, o importante é que tem Magic Mike para todos os gostos.

2015 (até agora)

Discos:

1. Reality Show, Jazmine Sullivan
2. To Pimp a Butterfly, Kendrick Lamar
3. Cherry Bomb, Tyler, the Creator
4. Blackheart, Dawn Richard
5. Summertime ’06, Vince Staples
6. The Desired Effect, Brandon Flowers
7. Levon Vincent, Levon Vincent
8. Dark Energy, Jlin
9. Natalie Prass, Natalie Prass
10. B4.DA.$$, Joey Bada$$

Filmes:

1. Branco Sai, Preto Fica, Adirley Queirós
2. Corações de Ferro, David Ayer
3. Cala a Boca, Philip, Alex Ross Perry
4. Vício Inerente, Paul Thomas Anderson
5. Mad Max: Estrada da Fúria, George Miller
6. Mapa Para as Estrelas, David Cronenberg
7. Sniper Americano, Clint Eastwood
8. Pássaro Branco na Nevasca, Gregg Araki
9. Homem-Formiga, Peyton Reed
10. Sabotage: O Mestre do Canão, Ivan 13DP

sessão da tarde

Esses dias vi numa cabine a nova produção do Edgar Wright, O Homem-Formiga, e saí da sessão com aquela sensação de bem-estar que algum tempo eu não sentia assistindo um filme de super herói. Também alguns dias atrás vi pela primeira vez A Rosa Púrpura do Cairo do Woody Allen e fiquei encantado com a forma como o diretor conversa numa metalinguagem com a experiência do cinema através da personagem da Mia Farrow. Vez ou outra eu me pego na mesma sensação de Farrow, onde somente uma sala de cinema pode me resgatar dos problemas da vida real.

O Cinema tem dessas. Alguns filmes parecem não ter aquela pretensão de serem grandes filmes, e é talvez por esse aspecto puramente leve, de mero entretenimento, que muitos deles se tornam clássicos e memoráveis para nós espectadores. Seja pela experiência de estar na sala escura sendo acolhido por personagens comuns, de sermos transportados para um universo que não o nosso, ou as vezes por uma mensagem simplória que acabamos nos identificando, esses filmes possuem o poder de simplesmente nos deixar bem.

Pensando nesse aspecto de leveza e bem-estar, enquanto ouço o ep novo do Mac DeMarco, resolvi compilar uma listinha básica com 10 filmes ‘sessão da tarde’ que caem muito bem para uma tarde de Sábado como a de hoje, inclusive. São filmes que fizeram parte da minha infância, da minha formação cinéfila, ou simplesmente porque sempre que estão passando me fazem parar no tempo em frente à tv.

1
Pateta – O Filme, dir. Kevin Lima (1995)Never-Been-Kissed-never-been-kissed-6013024-800-451
Nunca Fui Beijada, dir. Raja Gosnell (1999)X-Men-x-men-the-movie-27490173-1280-543
X-Men – O Filme, dir. Bryan Singer (2000)charliesangels4
As Panteras, dir. McG (2000)maxresdefaulteleven
Onze Homens e Um Segredo, dir. Steven Soderbergh (2001)13_Going_On_30_2004_KISSTHEMGOODBYE_NET_0865
De Repente 30, dir. Gary Winick (2004)meangirls8
Meninas Malvadas, dir. Mark Waters (2004)149a0835d875b70b58bb231cf55d24bb
Tudo Acontece em Elizabethtown, dir. Cameron Crowe (2005)wallebench1
Wall-E, dir. Andrew Stanton (2008)pineapple_express_6
Segurando as Pontas, dir. David Gordon Green (2008)

Paper Towns (Jake Schreier)

Tem algum tempo que não escrevo aqui, mas recentemente vi Cidades de Papel e me encontrei diante de algumas reflexões sobre o curso dos coming of ages. Essa nova safra de filmes adolescentes me parece realmente interessada em compreender a natureza juvenil e remodelar sua própria linguagem, como os melhores exemplares dos anos 90/início dos anos 00 o fizeram. E esse frescor que o gênero voltou a ter na última década se deve muito a imprescindível leveza que filmes como o do Jake Schreier tem tido na construção de seus personagens.

Embora limitado em sua amplitude, devido expressamente por ser uma adaptação de um best seller do John Green, me cativa muito como Schreier encontra sempre em elementos pré concebidos uma maneira de relacioná-los aos sentimentos e ações daqueles adolescentes. Se por vezes vemos a câmera se mover num travelling em slow-motion numa sequência com uma canção pop ao fundo é porque existe uma compreensão do tempo sendo dilatado que cabe à dimensão daquele sentimento expresso pela sequência. E se há vários elementos de gêneros também, desde um rip-off de Super 8 num antigo armazém abandonado, ao alívio cômico de ter os personagens cantando o tema de Pokémon, ou dum diálogo sobre a trajetória deles no ensino médio e as incertezas do futuro na universidade e da própria amizade entre eles, é porque na visão de Schreier se estabelece um ensaio fílmico que resgata aquele sentimento nostálgico dos filmes do John Hughes e daquele cinema adolescente praticado no anos 80/90, e que continuam dizendo muito sobre o que é ser adolescente nos dias de hoje.

Para além desse olhar compreensivo que Schreier lança para as problemáticas daqueles personagens, em especial os masculinos, é excepcionalmente sobre as figuras femininas que o filme encontra seu real poder dialético. Não pela desconstrução de clichês e estereótipos, como costumeiramente o fazem, mas por simplesmente não idiotizá-las ou colocá-las como indivíduos meramente sentimentais (e a mitologia da Cara Delevingne no filme, como se ela tivesse saído duma canção da Taylor Swift diz muito sobre essa visão, que acaba sendo um contraponto bastante simbólico pro que se espera pra expansão do gênero).

quando você me deixou, meu bem

Para alguém sem praticamente nenhum embasamento teórico, encarar O Desprezo se torna um daqueles exercícios de confronto com o Cinema que vez ou outra me levam a refletir sobre minha posição de espectador.

Brigitte Bardot era a mulher mais fotografada do planeta na época.  É um detalhe importante, pois de mulher sexualmente objetificada à uma das personagens mais intrigantes do cinema moderno, Bardot se imortaliza aqui através da representação dos paradigmas que costumeiramente são quebrados nos filmes e, principalmente, na estética de Godard. Sua mitologia, não por menos, é equiparada a dos grandes deuses gregos. A mulher que num único gesto perde o interesse por seu amante e passa a desprezá-lo, ganha na visão contemplativa de Godard (leia-se travellings) a epicidade que, assim como a Odisseia de Homero, mantém-se viva através da imagem (e do imaginário do espectador). Se por um lado existe para Godard uma fascinação puramente cinematográfica quanto a essa figura feminina representada por Bardot, por outro existe um homem em completo detrimento diante de sua fragilidade de autor.

Dos mais delicados filmes feitos sobre a ilusão, ao mesmo tempo que é um dos manifestos mais importantes contra o regresso histórico do homem e sua incapacidade de enxergar aquilo que está diante de si. No fim das contas, O Desprezo é muito sobre tomar posse de nós mesmos, i guess.

trouble of the world

Imitation of Life 1 Imitation of Life 2 Imitation of Life 3 Imitation of Life 4 Imitation of Life 5 Imitation of Life 6 Imitation of Life 7 Imitation of Life 8 Imitation Of Life 9 Imitation of Life 10 Imitation of Life 11 Imitation of Life 12 Imitation of Life 13

Imitation of Life, Douglas Sirk, 1959

“Sarah Jane quer ser tida como branca, não porque é bonito, mas porque pode-se viver melhor. Lora Meredith não faz teatro porque acha belo, mas porque gente de sucesso consegue uma posição melhor. Annie não deseja ter um enterro pomposo porque teria alguma vantagem nisso, mas porque assim, mesmo morta, teria um significado para a sociedade que nunca teve em vida. Nenhum desses protagonistas parece compreender que tudo isto – pensamentos, desejos, sonhos – são provocados e manipulados pela sociedade. Eu não conheço nenhum filme que exponha esta circunstância de maneira tão clara e desesperada.”
(Rainer Werner Fassbinder)

#4olhardecinema

O #4olhardecinema vem aí. Tem Joaquim Pinto, Jean-Marie Straub, Rossellini, Nicholas Ray (!!!), Elia Kazan. Tem Mouramateus, Allan Ribeiro, etc etc etc.

A seleção oficial tá dinâmica, cheia de coisa interessante e muito filme inédito. Dá pra se programar bem, os horários tão flexíveis e ainda tem salas novas e filmes especialmente digitalizados pro Festival.

Sem contar que tem filme da Mossa Bildner com Glauber Rocha pra matar aquela saudade. E mais: master class com realizadores renomados, várias oficinas e uma mostra do Jacques Tati.

Tem Cinema em Curitiba sim!