Paper Towns (Jake Schreier)

Tem algum tempo que não escrevo aqui, mas recentemente vi Cidades de Papel e me encontrei diante de algumas reflexões sobre o curso dos coming of ages. Essa nova safra de filmes adolescentes me parece realmente interessada em compreender a natureza juvenil e remodelar sua própria linguagem, como os melhores exemplares dos anos 90/início dos anos 00 o fizeram. E esse frescor que o gênero voltou a ter na última década se deve muito a imprescindível leveza que filmes como o do Jake Schreier tem tido na construção de seus personagens.

Embora limitado em sua amplitude, devido expressamente por ser uma adaptação de um best seller do John Green, me cativa muito como Schreier encontra sempre em elementos pré concebidos uma maneira de relacioná-los aos sentimentos e ações daqueles adolescentes. Se por vezes vemos a câmera se mover num travelling em slow-motion numa sequência com uma canção pop ao fundo é porque existe uma compreensão do tempo sendo dilatado que cabe à dimensão daquele sentimento expresso pela sequência. E se há vários elementos de gêneros também, desde um rip-off de Super 8 num antigo armazém abandonado, ao alívio cômico de ter os personagens cantando o tema de Pokémon, ou dum diálogo sobre a trajetória deles no ensino médio e as incertezas do futuro na universidade e da própria amizade entre eles, é porque na visão de Schreier se estabelece um ensaio fílmico que resgata aquele sentimento nostálgico dos filmes do John Hughes e daquele cinema adolescente praticado no anos 80/90, e que continuam dizendo muito sobre o que é ser adolescente nos dias de hoje.

Para além desse olhar compreensivo que Schreier lança para as problemáticas daqueles personagens, em especial os masculinos, é excepcionalmente sobre as figuras femininas que o filme encontra seu real poder dialético. Não pela desconstrução de clichês e estereótipos, como costumeiramente o fazem, mas por simplesmente não idiotizá-las ou colocá-las como indivíduos meramente sentimentais (e a mitologia da Cara Delevingne no filme, como se ela tivesse saído duma canção da Taylor Swift diz muito sobre essa visão, que acaba sendo um contraponto bastante simbólico pro que se espera pra expansão do gênero).

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